Crítica: Lingua Franca (2020)

Agora que Donald Trump perdeu e o pesadelo de seu desgoverno parece ter passado, muitos filmes e séries devem abordar esse período terrível vivido por quem morou nos Estados Unidos nestes últimos 4 anos. Todas as minorias foram brutalmente prejudicadas, incluindo transexuais e pessoas sem a documentação do país. Isabel Sandoval faz parte dessas duas categorias e usou seu talento para criar um filme capaz de refletir exatamente como foi viver diariamente com medo do que poderia acontecer sob as ordens de um presidente neofascista.

Lingua Franca (2020) deve se tornar referência no futuro por três motivos: é um dos poucos filmes que mostram explicitamente os impactos negativos da presidência de Trump feitos no período, aborda de cara os problemas de quem pode ser deportado a qualquer momento e retrata a realidade trans de um jeito único. Tudo isso se converge de maneira primorosa no drama escrito, dirigido, produzido e estrelado por Sandoval, que impressiona em todas as funções.

Como atriz, a cineasta consegue passar a mistura de medo, perseverança e esperança que a complexa personagem pede. Lynn Cohen também está impecável como a senhora que precisa de cuidados da imigrante. Apesar de um interesse romântico que não está tão bem quanto o resto do elenco, o filme não se enfraquece por isso.

Sandoval conduz seu filme de maneira delicada e ao mesmo tempo sufocante, explorando diversos aspectos de sua protagonista, incluindo a vida sexual, raramente mostrada de um jeito tão aberto. Sem ser niilista, Linha Franca nos mostra que monstros existem e algumas pessoas não podem ter o luxo de esperar que príncipes encantados as salvem. Numa realidade em que as coisas podem ruir a qualquer segundo, tudo o que pessoas trans e sem documentação têm são seus sonhos. Eles parecem inalcançáveis, mas ainda estão ali, dando forças para que tais pessoas sobrevivam um dia de cada vez.

Nota: 9

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