Análise dos indicados ao Oscar 2021

Durante muitos meses, uma das maiores dúvidas sobre as indicações ao Oscar 2021 estava relacionada à possibilidade de escolhas inusitadas devido ao panorama gerado pela pandemia – poucos filmes vistos no cinema, premiações realizadas de forma virtual e campanhas predominantemente on-line. Com o anúncio dos indicados, realizado por Priyanka Chopra e Nick Jonas, percebemos que a Academia não se arriscou tanto nas escolhas como poderia, seguindo os principais precursores na maioria de suas decisões, mesmo com um cenário levemente menos homogêneo do que nos anos anteriores e com muita diversidade em diversas categorias, além de marcos históricos.

Um dos aspectos positivos das indicações é a presença de mais de uma mulher na categoria de direção, incluindo uma artista que não é branca – dois fatos inéditos em 93 anos de história. Outro ponto a ser celebrado é o aumento da diversidade nas categorias de atuação, com quase metade não sendo branca.

Porém, a Academia pecou ao ter pouquíssimos representantes LGBT+ neste ano. Também não tivemos (de novo) nenhum filme da América Latina em filme internacional e, mesmo com fortes candidatos a melhor filme focados em histórias negras, apenas um deles foi indicado. Além disso, apenas 4 dos 10 indicados como coadjuvantes podem ser considerados 100% secundários e não protagonistas. Isso tudo mostra que, mesmo com melhorias, ainda há muito o que avançar.

Vamos ao que interessa? Confira abaixo os indicados ao Oscar 2021 e minha análise de todas as categorias (exceto curta-metragens):

FILME

Nomadland

Os 7 de Chicago (The Trial of the Chicago 7)

Minari

Bela Vingança (Promising Young Woman)

Mank

O Som do Silêncio (Sound of Metal)

Meu Pai (The Father)  

Judas e o Messias Negro (Judas and the Black Messiah

Análise: dos 8 indicados, a maioria representa o cinema independente, o que é mais expressivo do que a tendência que vínhamos acompanhando nas últimas temporadas. Infelizmente, apenas 2 indicados são protagonizados por mulheres (sem um co-protagonista masculino). A maior surpresa foi a ausência de Uma Noite em Miami… (One Night in Miami…) e A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom), que acabaram de fora enquanto Meu Pai e Judas e o Messias Negro, dois filmes lançados na reta final, tiveram uma presença bem significativa no geral.

DIRETOR(A)

Chloé Zhao, Nomadland

Lee Isaac Chung, Minari

Emerald Fennell, Bela Vingança

David Fincher, Mank

Thomas Vinterberg, Druk: Mais uma Rodada (Another Round)

Análise: como mencionado acima, um dos destaques do anúncio é o fato de termos duas mulheres, inclusive uma diretora que não é branca, pela primeira vez. Claro que poderia ter sido melhor, já que outras premiações indicaram mais do que esse número, mas o saldo é positivo. Apesar de ter aparecido no BAFTA graças ao sistema de votação em comitê, Vinterberg era uma possibilidade menos provável do que os diretores que estavam na sua frente, como Aaron Sorkin, Darius Marder, Florian Zeller e Regina King, que teria se tornado a primeira mulher negra na categoria. Assim como Yorgos Lanthimos, Michael Haneke e Pawel Pawlikowski, o dinamarquês (o primeiro dessa nacionalidade na categoria) tirou a vaga de alguém que tinha recebido menção no Directors Guild Awards (DGA).

ATRIZ

Carey Mulligan, Bela Vingança

Frances McDormand, Nomadland

Viola Davis, A Voz Suprema do Blues

Vanessa Kirby, Pieces of a Woman

Andra Day, Estados Unidos vs. Billie Holiday (The United States vs. Billie Holiday)

Análise: a categoria menos surpreendente, com Day pegando a última vaga graças à visibilidade gerada por sua vitória no Globo de Ouro e pelo lançamento bem na época da votação, além de ser um tipo de papel que costuma ser reconhecido. Curiosamente, é apenas a segunda vez que duas negras competem no mesmo ano nesta categoria e, na última vez, uma delas também interpretou Billie Holiday.

ATOR

Chadwick Boseman, A Voz Suprema do Blues

Anthony Hopkins, Meu Pai

Riz Ahmed, O Som do Silêncio

Steven Yeun, Minari

Gary Oldman, Mank

Análise: os 5 indicados ao SAG se repetiram aqui. Ainda que Tahar Rahim e Mads Mikkelsen fossem opções viáveis, o grande esnobado foi Delroy Lindo, que viu seu filme e sua performance perderem gás à medida que a temporada avançava, e apenas o Critics’ Choice Awards reconheceu o veterano, entre os precursores televisionados.

ATRIZ COADJUVANTE

Youn Yu-jung, Minari

Olivia Colman, Meu Pai

Maria Bakalova, Borat: Fita de Cinema Seguinte

Glenn Close, Era uma Vez um Sonho

Amanda Seyfried, Mank

Análise: com cada precursor indicando uma combinação diferente, quase nenhuma atriz era considerada lock e havia diversas opções plausíveis. No fim das contas, Helena Zengel enfraqueceu por causa da falta de buzz para o filme na reta final, Ellen Burstyn foi só uma queridinha da crítica, Dominique Fishback não teve a força necessária para se sobrepor a quem já estava mais forte na corrida e Jodie Foster acabou sendo apenas mais uma escolha peculiar do Globo de Ouro, que sempre teve muito apreço por ela.

ATOR COADJUVANTE

Daniel Kaluuya, Judas e o Messias Negro

Sacha Baron Cohen, Os 7 de Chicago

Leslie Odom Jr, Uma Noite em Miami…

Paul Raci, O Som do Silêncio

Lakeith Stanfield, Judas e o Messias Negro

Análise: o único grande choque genuíno do anúncio foi Stanfield, já que sua campanha tinha posicionado o ator como protagonista. A Academia se dá o direito de seguir ou não os posicionamentos escolhidos pelos estúdios, mas é muito raro quando vão contra. Talvez tanto Kaluuya quanto seu colega de elenco tenham entrado nesta categoria porque uma parcela dos votantes deve ter achado que ambos teriam mais chance aqui e os dois acabaram recebendo votos o suficiente para ultrapassar candidatos sem um suporte mais expressivo, como Alan Kim, Bill Murray, Chadwick Boseman e Jared Leto.

FILME INTERNACIONAL

Druk: Mais uma Rodada – Dinamarca

Quo Vadis, Aida? – Bósnia e Herzegovina

Collective – Romênia

The Man Who Sold His Skin – Tunísia

Better Days – Hong Kong

Análise: os dois últimos são as surpresas, ainda que estivessem no radar devido à pré-lista.

DOCUMENTÁRIO – LONGA-METRAGEM

Collective

Time

Crip Camp: Revolução pela Inclusão (Crip Camp: A Disability Revolution)

The Mole Agent

Professor Polvo (My Octopus Teacher)

Análise: infelizmente, Bem-Vindo à Chechência (Welcome to Chechnya) foi esnobado aqui e em efeitos visuais. A maior surpresa foi o documentário sobre o polvo, que era uma possibilidade e tinha aparecido no BAFTA, mas não estava tão cotado como outros, por sua natureza mais descompromissada do que vários de seus concorrentes.

ANIMAÇÃO – LONGA-METRAGEM

Soul

Wolfwalkers

A Caminho da Lua (Over the Moon)

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward)

Shaun, o Carneiro, o Filme: A Fazenda Contra-Ataca (A Shaun the Sheep Movie: Farmageddon)

Análise: nenhum choque, com estúdios já reconhecidos nesta categoria pegando as vagas que estavam mais abertas.

ROTEIRO ORIGINAL

Bela Vingança

Os 7 de Chicago

Minari

O Som do Silêncio

Judas e o Messias Negro

Análise: pelo visto, a parte conservadora da Academia ainda tem certa influência e poucos votantes devem ter visto Nunca, Raramente, Às Vezes, Sempre (Never Rarely Sometimes Always) por conta do tema, que ainda é considerado tabu.

ROTEIRO ADAPTADO

Nomadland

Meu Pai

Uma Noite em Miami…

O Tigre Branco (The White Tiger)

Borat: Fita de Cinema Seguinte  

Análise: uma pena que First Cow não foi tão visto. De qualquer forma, o filme que tinha mais buzz e não entrou foi A Voz Suprema do Blues.

EDIÇÃO

Os 7 de Chicago

Nomadland

Bela Vingança

Meu Pai

O Som do Silêncio

Análise: Mank é o grande esnobado, assim como os demais indicados na categoria principal que não apareceram aqui.

FOTOGRAFIA

Mank

Nomadland

Os 7 de Chicago

Relatos do Mundo

Judas e o Messias Negro

Análise: a última vaga estava aberta, mas ninguém chegou a chocar.

DESIGN DE PRODUÇÃO

Mank

Relatos do Mundo

A Voz Suprema do Blues

Tenet

Meu Pai

Análise: talvez o único que tinha menos chances de indicação fosse Meu Pai, já que a categoria costuma priorizar trabalhos de escopo massivo, como em blockbusters, épicos ou filmes de época. Assim como em Parasita (Parasite), o design de produção de Meu Pai é bastante chamativo e parte integral da trama.

FIGURINO

Emma.

A Voz Suprema do Blues

Mulan

Mank

Pinocchio

Análise: mesmo com um figurino chamativo, o filme sobre o boneco de madeira não estava tão cotado para esta categoria, rendendo uma das poucas indicações mais inesperadas do anúncio.

MAQUIAGEM E PENTEADOS

A Voz Suprema do Blues

Era uma Vez um Sonho

Pinocchio

Emma.

Mank

Análise: nada surpreendente.

TRILHA SONORA

Soul

Mank

Relatos do Mundo

Minari

Destacamento Blood (Da 5 Bloods)

Análise: a única indicação do filme de Spike Lee veio justamente numa categoria em que não se esperava tanto que a obra aparecesse, ainda que estivesse na pré-lista.

SOM

O Som do Silêncio

Relatos do Mundo

Greyhound: Na Mira do Inimigo (Greyhound)

Mank

Soul

Análise: no primeiro ano de junção das categorias Edição de Som e Mixagem de Som após vários anos com a separação, o concorrente menos esperado era a animação da Pixar, mas sempre esteve entre as possibilidades.

CANÇÃO

Io Sì (Seen) – Rosa e Momo

Speak Now – Uma Noite em Miami…

Husavik (My Hometown) – Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars (Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga)

Fight For You – Judas e o Messias Negro

Hear My Voice – Os 7 de Chicago

Análise: nada muito inesperado, mantendo a consistência dos últimos anos depois de um período de controvérsias na categoria.

EFEITOS VISUAIS

Tenet

O Céu da Meia-Noite

Mulan

O Grande Ivan (The One and Only Ivan)

Love and Monsters

Análise: no geral, a Academia optou por trabalhos mais grandiloquentes, sem nenhum candidato marcado por efeitos inseridos de maneira mais contida na narrativa.

DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM

 Colette

A Love Song for Latasha

Hunger Ward

Do Not Split

A Concerto Is a Conversation

CURTA-METRAGEM DE FICÇÃO

Feeling Through

The Letter Room

 The Present

 Two Distant Strangers

White Eye

CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO

 Burrow

Genius Loci

 If Anything Happens I Love You

 Opera

 Yes-People

 

Curtiu os indicados ao Oscar 2021? Deixe seu comentário falando suas surpresas e quem você quer que vença!

Related Post

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »
RSS
Follow by Email