Crítica: A Mão de Deus (2021)

Paolo Sorrentino sabe filmar como poucos. A forma como ele explora todo o potencial imagético de suas histórias é intoxicante. Em A Mão de Deus (The Hand of God, 2021), o cineasta mantém esse apuro técnico, com a diferença de ser uma história mais intimista, já que ele resolveu contar como foi uma fase decisiva da sua adolescência.

O grande problema deste novo trabalho é justamente o foco em alguém que não parece ter uma personalidade marcante ou conflitos interessantes. Até quando o protagonista passa por um grande trauma, o impacto emocional é mais por gostarmos dos outros personagens do que por torcermos por essa versão anêmica do próprio diretor. E o ator que o interpreta não consegue ter o alcance dramático necessário para aliviar essa questão.

O roteiro é o calcanhar de Aquiles deste longa-metragem, e as cenas em que determinado personagem pergunta se o jovem protagonista tem algo a dizer parece autoparódia, já que o próprio filme não vai além do superficial. Também incomoda a maneira como o diretor se apoia em clichês gordofóbicos e capacitistas para fazer rir, construindo cenas inteiras a partir disso. 

O que mais funciona é a fotografia excepcional, que reforça a beleza das locações italianas, além da construção da maioria dos personagens secundários. Com algumas exceções, os coadjuvantes enchem a tela de vida, com histórias e interações tão encantadoras que a vontade que fica é de ver filmes sobre cada uma daquelas pessoas, retratadas com autenticidade e carinho, já que claramente foram inspiradas em gente por quem Sorrentino tinha apreço e o influenciaram profundamente.

Nota: 6

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