Crítica: Mulher-Maravilha 1984 (2020)

Querendo ou não, na última década o público acabou condicionado a esperar de filmes de super-heróis a fórmula da Marvel, marcada pela ausência de riscos, por vilões insossos e visual uniforme praticamente em todos os filmes, com raras exceções. Quando nos deparamos com algo como Mulher-Maravilha 1984 (Wonder Woman 1984), é natural sentirmos estranheza, afinal, o novo filme de Patty Jenkins remete a obras do período pré-MCU, quando adaptações de histórias em quadrinhos ainda eram caracterizadas por personalidade de sobra, para o bem ou para mal.

A continuação do sucesso de 2017 mantém a natureza pueril e idealista da personagem-título. A principal diferença é a presença de dois vilões bem chamativos, algo que o filme anterior não tinha. Vividos por Kristen Wiig e Pedro Pascal com gosto, os personagens são figuras fascinantes e que movem a narrativa. Gal Gadot até tenta segurar as cenas mais exigentes, mas Mulher-Maravilha 1984 requer que ela demonstre mais do que apenas charme, o que explicita suas limitações dramáticas.

Chris Pine retorna com o mesmo carisma que deu brilho ao primeiro filme, mas a forma como ele retorna não é tão convincente, apesar de ser uma volta necessária para justificar o dilema final da protagonista. Aliás, um dos aspectos positivos desta continuação é a coerência temática da obra, que aborda do início ao fim o poder das escolhas e a importância de não cortar caminhos para se conseguir o que quer.

O visual do filme também é um show à parte, pois o design de produção e o figurino ajudam a compor o tom excessivo e suntuoso dos anos 80. Por falar nisso, não dá para ignorar o calcanhar de Aquiles de Mulher-Maravilha 1984: seus excessos. Inicialmente, a megalomania e o tom farsesco funcionam, mas há muitas cenas que poderiam ter sido cortados. Além disso, o roteiro tem dificuldade para balancear o realismo e as soluções mais fantásticas da história. Porém, mesmo com esses problemas, a aventura ao menos tenta proporcionar algo audacioso e com uma mensagem sem o cinismo comum a filmes recentes de super-heróis que se levam muito a sério.

Nota: 6.5

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