Crítica: A Voz Suprema do Blues (2020)

Nem todo diretor consegue adaptar peças teatrais de maneira eficaz, sem que as limitações do cenário deixem o filme engessado. No caso de A Voz Suprema do Blues (Ma Rainey’s Black Bottom, 2020), George C. Wolfe não demonstra ter a habilidade necessária para evitar esse problema.

Outro fator que enfraquece a obra é a estrutura repetitiva do roteiro. Mesmo tendo momentos poderosos e que dizem bastante sobre a forma como artistas pretos eram explorados por pessoas brancas no mundo da música na época retratada, o roteiro tem uma estrutura repetitiva, com uma sucessão de monólogos que surgem de maneira artificial. Além disso, o desfecho da história é abrupto demais e com um momento de tensão completamente gratuito e incoerente.

Quem salva A Voz Suprema do Blues é seu elenco. Glyn Turman é o principal destaque entre os coadjuvantes, funcionando como alívio cômico e aproveitando bastante sua grande cena – um monólogo enquanto toca piano. Viola Davis, por sua vez, apresenta uma forte presença cênica, ainda que a personagem não tenha a complexidade que merece (e a barriga falsa parece saída de novelas em que vilãs fingem estar grávidas, o que não ajuda na ilusão).

Claro que não dá para falar do filme sem comentar o trabalho poderoso de Chadwick Boseman. O ator encerra sua carreira com sua atuação mais marcante, proporcionando a eletricidade que A Voz Suprema do Blues necessita. Ele é a alma deste drama, saboreando cada momento com a energia de alguém entusiasmado com a vida e as possibilidades do futuro, mas calejado por tudo que já passou até ali.

Nota: 6

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