Crítica: Annette (2021)

O diretor Leos Carax sempre faz obras únicas, com um estilo visual impecável e muito a dizer nas entrelinhas, mesmo quando a mensagem não é tão simples de decifrar. Annette (2021) é seu primeiro filme desde o magnífico Holy Motors (2012), e o cineasta francês reforça sua ousadia com um musical operesco e admirável, mas com diversas falhas.

Annette conta a história de um comediante impulsivo que vive um romance com uma cantora de ópera famosa. A relação turbulenta dos dois é filmada com muita sensualidade, de um jeito cada vez mais raro no cinema atual. Depois que o casal tem uma filha, a história toma um rumo inesperado, em que o foco passa a ser uma crítica mordaz ao culto a celebridades e à forma irresponsável com que pais exploram o talento de seus filhos.

A segunda metade do filme é a mais bem-sucedida, justamente por focar na personagem-título, cujas características causam um estranhamento inicial, mas logo fica fácil cair de amores e comprar a ideia do diretor. O destaque para Simon Helberg também é um acerto nessa parte da obra, já que o ator está excepcional e seu personagem é um dos melhores do longa-metragem.

O que faz a primeira metade não funcionar tão bem é o foco na relação entre Adam Driver e Marion Cotillard. Mesmo com ambos fazendo o possível para convencer – juntos e isoladamente -, os dois deixam a impressão de que não eram as melhores escolhas para tais personagens. Além disso, as cenas de romance e mostrando o trabalho de cada um não são eficazes como deveriam.

Por sua vez, as músicas são irregulares. Algumas delas são memoráveis e funcionais, enquanto outras soam redundantes e repetitivas, sem apresentar nada diferente do que já estamos vendo nas imagens. E que imagens! O visual de Annette é um dos melhores aspectos do filme, assim como a metalinguagem incorporada por Carax. Desde a inventiva abertura até a cena pós-créditos, o diretor abusa da artificialidade, deixando claro para o público que aquilo que está sendo apresentado é uma farsa – e não há problema algum nisso.

Nota: 7

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