2020 tinha tudo para ser um ano fantástico para o cinema. Começamos com o primeiro (e único) filme internacional vencendo melhor filme e logo teríamos não um, mas vários blockbusters dirigidos e estrelados por mulheres (depois de Aves de Rapina, seria a vez de Mulan, Viúva Negra e Mulher-Maravilha 1984, só para citar os maiores). Mas, assim como em todas as outras áreas, o cinema levou uma rasteira do destino por causa do novo Coronavírus.
Inicialmente, estúdios e distribuidoras estavam cautelosos em relação a mudanças em seus lançamentos, mas quando perceberam que a situação pioraria no mundo todo, logo filmes foram adiados (alguns até para o ano que vem) ou jogados para plataformas de streaming. Além disso, a produção e pós-produção de inúmeros filmes tiveram que ser interrompidas, o que vai afetar o calendário e, consequentemente, a temporada de premiações.
Um ano sem Palma de Ouro?
Não tem como falar de prêmios sem antes abordar a situação dos festivais de cinema, afinal, a maioria das melhores produções passam por eles antes. Enquanto alguns tiveram que ser cancelados, como o festival SXSW, outros ainda não definiram o que acontecerá. Cannes, por exemplo, continua adiando e, devido à situação na França, já sabemos que o festival mais famoso do cinema não ocorrerá antes de agosto (normalmente ele é realizado em maio).
Em setembro é quando “o bicho pega” em matéria de festivais, pois os festivais de Veneza, Telluride, Toronto e New York acontecem quase simultaneamente. E boa parte dos eventuais indicados ao Oscar e a outras premiações no fim do ano e no começo do ano seguinte acabam sendo exibidos primeiro nesses festivais.
Mas, e agora? Será que esses festivais vão mesmo ser realizados nas datas previstas? Mesmo que a pandemia melhore até agosto e setembro, vai ter clima para a celebração de filmes em mostras com a presença de estrelas e muitas pessoas no mesmo local? O público já estará pronto para voltar a frequentar salas de cinema depois dessa tragédia global? E as premiações, vão manter os cronogramas sem mudanças?
As escolhas de Sofia para a Academia
Até o momento, a Academia ainda não se pronunciou. Há quem acredite que a maior celebração do cinema não será tão afetada pelas consequências da Covid-19, pois boa parte dos filmes reconhecidos costuma estrear no segundo semestre mesmo. O Emmy será um indicador do que pode ocorrer, já que a maior premiação da TV geralmente ocorre em setembro. O prazo para classificar as séries já foi prorrogado, então agora falta saber se a data da cerimônia será adiada também e se, caso ocorra como de costume, quais serão as diferenças na transmissão.
Como o Oscar só acontece em fevereiro, é possível que até lá tudo esteja mais normalizado e talvez só adiem a cerimônia para algumas semanas depois do previsto. Também existe a possibilidade de a Academia decidir dar um prazo maior para os filmes se classificarem, levando em conta que o ano vai acabar sendo bem menor no que diz respeito aos lançamentos. O prazo para se classificar é 31 de dezembro, mas talvez nesta temporada a Academia prolongue a oportunidade de concorrer, o que beneficiaria filmes que talvez não ficariam prontos até o fim do ano devido às pausas na produção e pós-produção causadas pelo Coronavírus.
Outra questão é se a Academia e outras premiações flexibilizarão as regras para filmes concorrerem. Estou me referindo a obras lançadas por streaming, que cada vez mais estão dominando a atenção do público, e de filmes lançados antes da pandemia, como o aclamado Never Rarely Sometimes Always, que teve sua exibição interrompida e ficou apenas uma semana nos cinemas, o que impossibilitaria qualquer indicação ao Oscar, por exemplo.
O impacto vai muito além de prêmios
Tudo isso vai afetar não só festivais e premiações, mas o modelo de lançamentos de filmes nos cinemas, que já estava abalado em função da popularização do streaming. Vai dizer que você não percebeu que cada vez mais pessoas têm visto apenas filmes da Marvel e animações da Disney nos cinemas e têm deixado outros tipos de filmes para ver em casa? Pois é, se a tendência já era ruim, agora então é que poderemos ver uma ruptura ainda maior, afinal, a pandemia levará a uma crise financeira que afetará não só o financiamento de produções em geral, mas também os hábitos do público. E, é claro, quem mais vai se dar mal nessa história são cineastas independentes e internacionais, que estão há anos tentando escapar da areia movediça que virou o sistema de exibição.
Para uma análise mais pessimista da situação, indico este artigo do The New York Times. Já para uma visão mais otimista, recomendo a ótima análise do The Film Experience. Logo teremos mais confirmações a respeito de tudo que comentei acima. Por enquanto, só nos resta torcer para o cinema sobreviver a mais um grande desafio.
Como o show não pode parar, logo farei minhas primeiras apostas para o próximo Oscar. Mesmo com uma perspectiva cheia de indefinições, a hora de brincar é agora e não custa nada sonhar um pouquinho. Todos nós precisamos disso.
E você, o que acha que vai acontecer nos próximos meses? Deixe seu comentário sobre os impactos da pandemia na temporada de premiações!