Crítica: Uma Vida Oculta (2019)

Depois de decepcionar com os três filmes contemporâneos que lançou depois de A Árvore da Vida (The Tree of Life, 2011), pelo qual foi indicado ao Oscar novamente e ganhou a Palme de Ouro no Festival de Cannes, o recluso Terrence Malick retorna à boa forma com Uma Vida Oculta (A Hidden Life, 2019).

Com um roteiro tradicional, sem ser baseado quase que inteiramente no improviso, como suas últimas três obras, Malick exerce sua habilidade de mostrar como o ser humano é complexo ao abordar a vida de um personagem real. Assim como todos os seus trabalhos, Uma Vida Oculta é um drama contemplativo e delicado, apoiado em boas interpretações e em uma fotografia exuberante.

Apesar de poder ter sido mais enxuto, este drama merece ser descoberto, principalmente por sua enorme relevância, já que aborda o questionamento de um homem que se recusa a servir para os nazistas e acaba sofrendo as consequências de sua decisão. Enquanto alguns diretores focariam a mesma história apenas no personagem citado, Malick sabe que a vida da esposa do protagonista é tão interessante quanto a dele. Em determinados momentos, o filme remete a algumas obras de Lars Von Trier, mas sem o sadismo deste, que é conhecido por mostrar protagonistas sofrendo nas mãos de uma comunidade cruel.

A premissa é muito parecida com a de Até o Último Homem (Hacksaw Ridge, 2016), só que Malick não glorifica a violência em momento algum, como fez Mel Gibson em seu filme irresponsável e mal feito. Outro ponto alto de Uma Vida Oculta em relação a outro filme recente sobre a Segunda Guerra Mundial é o fato de não relativizar o perigo e a dor causada pelo nazismo, como fez Taika Waititi em Jojo Rabbit (2019), outro filme que também foi indicado ao Oscar e que fez sucesso, por abordar o tema da forma mais rasa possível.

O drama que Malick criou pode ser mais difícil de absorver, mas as reflexões que ele propõe são muito mais recompensadoras do que cabeças explodindo ou crianças dançando David Bowie para criar cenas com aura cool.

Merecia prêmios? Além de ser mais merecedor que metade dos indicados a melhor filme no Oscar (incluindo Jojo Rabbit), Uma Vida Oculta poderia facilmente ter sido indicado a diretor, ator, atriz e fotografia. O máximo que o filme conseguiu após sair sem nada de Cannes foi algumas menções na categoria de fotografia em premiações de críticos e uma indicação a melhor filme no Independent Film Spirit Awards.

Nota: 8.5

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