Situações extremas pedem medidas drásticas. É isso que vimos com as novas mudanças anunciadas hoje pela Academia. Após um encontro virtual, os 54 membros que fazem parte do conselho responsável pelas decisões referentes ao Oscar precisaram fazer escolhas difíceis, principalmente considerando as consequências do novo Coronavírus para toda a indústria cinematográfica.
A alteração mais radical, ainda que temporária, é a possibilidade de indicações de filmes que não passaram nos cinemas, algo inédito até então para o Oscar. Isso vai beneficiar filmes de plataformas de streaming como a Netflix, mas isso quer dizer que o hit estrelado pela Larissa Manoela pode ser indicado? Não é bem assim…
Para tirar suas dúvidas, resolvi comentar cada alteração para ajudar todo mundo a entender o que pode acontecer na próxima premiação.
1. Filmes lançados diretamente em streaming
Até este ano, a Academia não permitia que filmes não exibidos no cinema pudessem competir. É por isso que a Netlix lançava alguns filmes por aproximadamente duas semanas. Essa exibição quase simbólica era apenas para classificar obras como Roma (2018) e O Irlandês (2019). Devido à pandemia, a Academia vai flexibilizar essa regra, que deve valer apenas para este ano, conforme o anúncio.
Mas todo filme lançado na Netflix, por exemplo, vai poder ser indicado então? Nada disso. Pela nova regra, podem ser consideradas apenas obras cujo lançamento no cinema foi cancelado devido ao Coronavírus e que, por isso, acabaram indo direto para plataformas de streaming. Teoricamente, Trolls World Tour (2021) pode concorrer agora, já que seria lançado no cinema mas a pandemia fez o estúdio lançar a animação diretamente em streaming (claro que esse filme não tem muita chance, mas logo filmes que realmente teriam alguma possibilidade de indicação podem ser jogados para streaming sem enfraquecerem na disputa pelo Oscar).
Isso é bom? Para cineastas que viram suas obras afetadas pelos impactos da Covid-19, a mudança é ótima, já que terão chance de concorrer na maior premiação do cinema mesmo pulando a exibição no cinema. Para plataformas de streaming, isso também é excelente, já que é uma barreira a menos para terem reconhecimento da Academia. Já para o cinema em geral, ainda é muito cedo para saber como essa “exceção” vai influenciar os próximos anos.
2. Chega de confusão nas categorias de som
Desde que a Academia decidiu mudar a nomenclatura das duas categorias referentes ao som dos filmes, todo mundo se confunde, seja quem acompanha a corrida pelo Oscar ou até os próprios votantes. Quase ninguém conseguia diferenciar “edição de som” e “mixagem de som”, o que gerava muita reclamação. Não é à toa que víamos os mesmos filmes indicados nas duas categorias constantemente, mesmo que uma fosse destinada à criação dos sons (“edição de som”) e outra servisse para reconhecer a forma como os sons eram mixados (“mixagem de som”).
Para diminuir a confusão, bastava um novo nome para se referir à categoria da criação dos sons, mas isso não importa mais. A partir de agora, haverá apenas uma categoria de som.
Isso é bom? Para quem não sabia a diferença entre as categorias, a notícia é uma maravilha. A mudança seria ruim se ela significasse que algum tipo de profissional não seria mais reconhecido, mas a Academia anunciou que, com a junção, tanto editores de som como mixadores de som serão indicados na nova categoria.
3. Todo mundo votando em filme internacional
A partir da próxima edição, todos os votantes podem participar da votação para melhor filme internacional. Antes isso era feito por um comitê, que escolhia os indicados internacionais a partir das seleções de cada país. Outra alteração da categoria é que agora há a definição de que filmes internacionais precisam ser longa-metragens (mais de 40 minutos de duração) produzidos fora dos EUA com mais de 50% dos diálogos em língua não-inglesa. Isso é um reflexo da controvérsia causada por causa de Lionheart, filme nigeriano que foi desclassificado para a categoria na última temporada porque era falado em inglês, idioma oficial do país.
Isso é bom? Assim como acontece com a categoria de melhor longa de animação, temos visto praticamente apenas filmes populares e com grande visibilidade entrando, com quase nenhum espaço para obras mais desconhecidas. Desconfio que o mesmo acontecerá em melhor filme internacional, já que a maioria dos votantes deve ver somente os filmes internacionais mais conhecidos e, consequentemente, obras “menores” serão (ainda mais) ignoradas. Já em relação à definição do que pode se classificar na categoria com base nos diálogos, países como a Nigéria continuam em desvantagem, já que dificilmente serão reconhecidos em outras categorias e na única em que poderiam, não podem simplesmente porque o idioma oficial do país é o mesmo de Hollywood.
4. Tchau, DVD
Até então, ainda era possível que os votantes assistissem aos filmes a partir de screeners recebidos em formato de DVD. Com a alteração, os membros da Academia não vão mais receber screeners físicos, tendo que checar os filmes pela plataforma on-line da Academia, caso não queiram ou não possam conferir as obras pela forma original de lançamento (cinema ou streaming).
Isso é bom? Para os votantes acostumados a votarem a partir do que assistem nos DVDs, é só uma questão de tempo até se habituarem ao novo formato de screener. Essa é a mudança que, à princípio, afetará menos os resultados.
Por enquanto, a Academia vai manter o prazo inicial – cerimônia no dia 28 de fevereiro. No entanto, isso pode mudar a qualquer momento, dependendo do desenvolvimento da pandemia. Para saber todos os detalhes, é só clicar aqui.
E você, acha que as mudanças são boas? Comente abaixo!